Arábia Saudita: Antecipar ou Resistir?

Bandeira da Arábia Saudita

A Primavera Árabe transmitiu lições importantes aos regimes monocratas; contudo países como a Arábia Saudita recusam-se a assimilá-las.

Ainda que pareça impermeável à Primavera Árabe, o Reino da Arábia Saudita está a passar por alguns problemas a Este do seu território, onde a minoria xiita habita. Esta comunidade exige justiça e igualdade; a libertação de todos os prisioneiros políticos; reformas políticas e, apela para que a família real Saudita se demita.
A reacção da Arábia Saudita, a estes protestos, tem sido pouco razoável (e.g. o emprisionamento do Sheikh Nimr Bqr al-Nimr – um clérigo xiita proeminente – por ter criticado a família real e as perseguições que o regime faz aos shiitas; matar e ferir manifestantes com munições e tácticas repressivas para suprimir os protestos e, a inibição da liberdade de mobilidade e actividade económica como castigo colectivo) e, como resultado, os manifestantes sentem-se mais motivados para lutar pelos seus direitos. Para além disso, existe o risco de contágio: em breve, os sunitas que sonham com uma sociedade Saudita menos severa sentir-se-ão inspirados para lutar e, também, exigir mudanças. 

Respeito as famílias reais: deram o seu sangue para formar nações; conquistaram terra e lutaram pelo seu povo, cultura, tradições e (porque não) religião. Mas isto não quer dizer que não dêem ouvidos aos seus súbditos, pelo contrário.
O Reino Saudita tem agora uma grande oportunidade de evitar uma situação similar à da Síria. Por isso, deveria reformar o regime, ser mais célere na concessão de mais direitos ao povo, no consentimento à liberdade de expressão e, deveria ambicionar a democracia (não necessariamente baseada no modelo ocidental) mantendo, ao mesmo tempo, a monarquia intacta – tudo isto é possível, veja-se Marrocos.
O Regime Saudita deveria permitir que o seu povo (homens e mulheres) tivessem liberdade para pensar, falar, escrever, informar-se, decidir, criticar, conduzir, ter liberdade de assembleia etc – porque se não o fizer, mais cedo ou mais tarde, os cidadãos sedentos de liberdade lutarão por ela com o apoio de forças externas, cuja única ambição é ver a Bandeira da Democracia içada à volta do mundo (N.B: e a Arábia Saudita deve lembrar-se que não estamos em 1973: desta vez não poderá usar o seu petróleo para chantagear o Ocidente; não quando este está atingir a independência energética através de novas tecnologias).

Analepse: em 1979 e 1980, a Arábia Saudita testemunhou várias revoltas xiitas contra o governo, na mesma região oriental (onde, curiosamente, estão os poços de petróleo), inspiradas pela revolução Iraniana; e, à tomada de assalto da Grande Mesquita de Meca, por parte de Islamistas que não consideravam o regime saudita o suficientemente Islâmico. A resposta da família Real foi a de aplicar uma observância mais severa do Islão tradicional.

Hoje, o Reino Saudita trava uma batalha similar; só que desta vez, os sunitas irão também para as ruas e exigirão, à família real, uma resposta contrária: a separação entre Igreja Muçulmana e o Estado (à semelhança do que ocorre na Turquia e no Azerbeijão)...

Antecipação é o nome do jogo, por isso pergunto-me:
Irá o Establishment Saudita ser esperto ou tolo (como Bashar al-Assad)?

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