Comentário: Síria, Irão & Arábia Saudita...Aparências

Le Petit Parc - Jean-Honoré Fragonard
Vitórias aparentes, aparentes derrotas. As aparências iludem.

O acordo sírio, feito no verão passado, parece ter sido um sucesso russo e uma derrota ocidental. Contudo, a vitória foi na verdade concedida a Israel (inadvertidamente ou não): a ameaça química - cuja existência fora negada durante mais de 30 anos - foi removida do seu caminho.
A Síria e a Rússia sempre justificaram as armas químicas do levante como uma forma de combater a ameaça israelita; mas agora que as armas químicas sírias estão a caminho da destruição, pergunto-me como é que a Síria pretende pugnar a "ameaça judaica"?
Bashar al-Assad, e o seu pai antes dele, foi sempre muito bom a manter o status quo no que tocava aos montes Golan (talvez porque ele tenha lido toda a literatura relevante e saiba que aqueles montes na verdade pertencem a Israel) mas quem quer que lhe suceda pode não ter a mesma tendência para manter o estatuto das coisas, logo devemos começar a visualizar cenários nos quais a Síria ou refornece o seu stock químico ou faz uso de actividade Jihadista contra Israel.

O acordo iraniano, celebrado no passado Novembro, pareceu ter sido uma vitória ocidental e um sucesso iraniano. Todavia, a vitória foi surpreendentemente concedida a Israel porque se o Irão falhar o acordo, e tudo começa a apontar nessa direcção, o Estado Judaico será validado e poderá lidar com o problema persa como achar que deve.
Não estou lá muito convencida desta recente relação de amor entre os EUA e o Irão. Não consigo expressar entusiasmo porque já aqui estivemos antes: a administração do President Bush cooperou com o Irão (para capturar elementos da Al-Qaeda e lutar contra os Talibans no Afeganistão) todavia tudo acabou quando o President Bush se apercebeu que o Irão continuava a apoiar terrorismo, à volta do mundo; e havia despistado o ocidente quanto ao seu programa nuclear.
Quando lemos declarações iranianas tais como "Nós colocámos 1.000 centrifugadoras da segunda geração (IR-2m), mas não injectámos o gás UF6 nelas por causa das negociações nucleares," poderemos até querer compreender que tais palavras sejam para consumo interno; mas ao mesmo tempo temos de nos perguntar até onde estará disposto o Irão a ir de modo a apaziguar receios internos...

A birra que a Arábia Saudita fez no ano transacto, ao rejeitar o lugar no Conselho de Segurança da ONU (UNSC, um lugar pelo qual tanto lutaram), pareceu ter sido bem fundamentada devido ao desapontamento saudita em relação aos EUA. Mas de novo, as aparências enganam.
A Arábia Saudita rejeitou o tão desejado lugar (perguntem ao Brasil) porque se apercebeu do que significava estar no UNSC: estar sob os olhares de todos (o que comporta uma enorme responsabilidade). No UNSC, de repente o mundo ir-se-ia aperceber de que a Arábia Saudita não contribui com um cêntimo para o problema dos "Refugiados" e Causa Palestinianos (deixando tudo isso para o Ocidente); o mundo também aperceber-se-ia que a Arábia Saudita é responsável pela maior parte do problema Islamista Sunita e pelas conversões em massa no Ocidente, África e América Latina; iríamos todos apercebermo-nos que a Estrela da Liga Árabe move-se na arena ocidental para proteger os seus próprios interesses e apostar de forma descarada contra os ocidentais; e se a Arábia Saudita tivesse tomado aquele lugar, teria que mostrar à América que faz um jogo duplo na maioria das vezes e, logo, ter-se-ia visto impedido de votar com os EUA...que dilema que teria sido. Por isso, a solução mais fácil é fingir que se é um menino político-mimado e rejeitar o lugar...desse modo o jogo saudita permanece preservado...ou assim pensam eles.

"Toda a Guerra é baseada no engano" - Sun Tzu


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