Negociação: O Melhor Caminho Para a Frente?

Negociação (Fonte: Google Imagens)

"As negociações são o melhor caminho para a frente" -- Catherine Ashton,
Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança

Negociar é abrir um canal de comunicação através do qual duas partes trocam informação que os ajuda a ter uma visão mais ampla dos assuntos disputados. Durante este processo, ambas as partes trabalham juntas para usufruir de algo que estaria indisponível em caso de acção unilateral.
Esta é a definição generalizada da palavra negociação, em relações internacionais. Mas quando olhamos para eventos mundiais, perguntarmo-nos se os políticos conseguirão mesmo visualizar amplamente aquilo por que disputam ou se alguma vez trabalham juntos.

Segundo o Prof. Siniša Vuković, o principal objectivo de qualquer negociação é "reduzir as diferenças [que constituem o cerne da disputa] entres as partes", seguido da redução da intensificação do conflito, ajudar as partes a atingir uma paz estável e duradoira ou a promover e proteger interesses específicos. Concordaria certamente com o professor Vuković que as negociações servem para reduzir a intensificação da tensões (por exemplo, se Israel e os Árabes da Palestina não tivessem concordado em negociar a paz a situação, no terreno, teria sido muito pior do que é - os Árabes já teriam provavelmente levado a cabo um segundo Holocausto no Médio Oriente [ME]); as ditas também ajudam a promover e proteger determinados interesses (por exemplo, o processo de paz do ME serviu, ao longo dos anos, para proteger os interesses do Ocidente na região - muitas vezes em detrimento dos interesses de Israel), contudo negociar pode não promover uma paz estável e duradoira, especialmente quando os mediadores envolvidos no processo têm uma agenda que desafia os interesses das partes litigantes.

A baronesa Ashton diz que as negociações são sempre a melhor opção. A senhora não está totalmente equivocada; não obstante, ainda que seja uma opção ela poderá não ser a melhor de todas - o que acontece quando as negociações geram ainda mais violência?
Peter Neumann, em "Negotiating with Terrorists", escreveu que alguns casos revelam que "tentativas de negociar acordos muitas vezes provocam desafios violentos tanto dentro da camarilha (facções dissidentes do grupo terrorista ou elementos reaccionários das forças de segurança do governo) como dentro de elementos externos (rivais ou grupos secessionistas)" que na maioria das vezes causam a morte de milhares de pessoas, isto é exactamente o resultado que as negociações pretendem evitar.
Desde os anos 70 que temos vindo a assistir a uma mudança no universo político: antes do aparecimento dos movimentos de libertação, os governos negociavam entre si; mas, depois da emersão de tais actores não-estatais os governos muitas das vezes viram-se obrigados a sentar-se à mesa e negociar com eles. Depois vieram os anos 80, 90 e o novo século, quando actores não-estatais inspirados pela religião começaram a concentrar-se no terrorismo como táctica principal para forçar governos a ceder às suas exigências.
Muitos académicos (e.g. Paul Wilkinson, Walter Laqueur e Martha Crenshaw) defendem que negociar com terroristas equivale à legitimização das suas acções e à recompensa pelo uso da violência - logo, em caso de terrorismo, em que é que as negociações são o melhor caminho para a frente? Não são, porque negociar oficialmente com tais grupos é o mesmo que declarar em público que os terroristas estão em pé de igualdade com os governos, o que não pode ser; e talvez seja essa a razão pela qual o estado muitas das vezes fará negociações a porta fechada com grupos terroristas como forma de mitigar o conflito entre as duas partes e evitar a catástrofe total.
Contudo, em casos como o do Boko Haram, as pessoas começam a perguntar-se se as negociações não serão uma solução viável pôr fim à crescente violência na Nigéria.

No que toca ao terrorismo, as negociações podem representar um dilema ainda maior:
I. Negociar com terroristas é um problema na falta de uma entidade com quem um governo possa negociar.
II. Grupos de Jihad Global geralmente operam em estruturas celulares, muitas das quais são células adormecidas; querendo isto dizer que não há interesse em apresentar uma frente unida com um porta-voz conhecido que possa fazer exigências e negociar. Em tais casos, os negociadores não são viáveis e governos não têm outra opção senão empregar força militar (e fazê-lo com o mínimo de danos colaterais).
III. Organizações Terroristas Híbridas (e.g. Fatah, Hamas e Hezbollah) são um desafio: como negociar com uma organização política sabendo que o seu objectivo é anuviar o processo político (de modo a poder comprar armas, recrutar, treinar e agir sob a égide de uma entidade política legítima)? Até agora, o protocolo tem sido apoiar, financiar e negociar com Organizações Terroristas Híbridas afim de gerir tensões (seja através da manutenção do status quo ou através do controle do uso de força limitada para dar a sensação de que todos estão a levar a sua adiante e, deste modo, prevenir uma guerra aberta).

Muitos consideram o processo de negociação como uma medida holística (i.e. concentrar-se no todo ao invés de se concentrar na análise das partes que formam a unidade); contudo poderá não ser tal coisa, especialmente quando durante as negociações a violência prossegue (como aconteceu nas mais recentes negociações de paz entre as FARC e o governo colombiano).
Negociar é importante mas a experiência e a história mostram-nos que nem sempre é o "melhor caminho para a frente" mas sim um mero instrumento para se atingir um fim.


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