EUA e Irão: Ausência e Presença Capitais em Riade


O Rei Abdullah, da Arábia Saudita, faleceu na passada sexta-feira. Que a sua alma descanse em paz. Não irei discutir como será a nova Arábia Saudita porque muitos já o fizeram, desde que se soube da doença do falecido monarca. Ao invés, centrar-me-ei em dois detalhes que veramente captaram a minha atenção...

O Rei morreu na sexta. No sábado, mais de 10 líderes mundiais estiveram presentes para apresentar as suas condolências à Família Real Saudita e encontrar-se com o seu sucessor...menos um: o Presidente dos EUA, Barack Obama, que chegou hoje (terça-feira) com a sua delegação. Um outro facto interessante é a presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif.
Johnny Dymond, da BBC, disse que “a longa lista de dignitários que se deslocou a Riyadh é prova da posição global da Arábia Saudita.” - há dúvidas quanto à precisão desta análise...

Quando um ser morre (independentemente do seu mau carácter ou das suas más acções), é costume as pessoas tornarem-se generosas e gentis; o que explica declarações como “[o rei] era sempre cândido e tinha a coragem de manter as suas convicções” (Pres. Obama), “[o rei será sempre recordado pela sua] devoção à paz e pelo fortalecimento do entendimento entre as fés” (PM David Cameron) e “a liderança responsável, atenta e sensata [do rei]” (Pres. Reuven Rivlin) – o protocolo exige tais níveis de hipocrisia. Não obstante, o que é que há de errado com o todo este cenário (se excluirmos a presença dos usuais lacaios ocidentais que não aproveitarão o momento para se libertarem, tendo em conta os tempos em que vivemos)?

O presidente Obama esteve na Índia, durante o fim-de-semana, respondendo ao convite estendido pelo PM Modi para participar nas celebrações do Dia da República da Índia. Esta e os EUA buscam “aumentar cinco vezes mais as trocas bilaterais, num valor que atingirá os $500 mil milhões, até 2020” (fonte), por isso é compreensível que o Presidente Obama não tenha ido a correr para a Arábia Saudita sem antes resolver um assunto de interesse nacional (logo, uma chamada telefónica foi tudo o que bastou). Para além do mais, agora que a América encontrou um parceiro mais fiável para o combate ao terrorismo, e é independente em termos de energia, não precisa de se dobrar mais aos sauditas. Em suma, a posição da Arábia Saudita, no que toca aos EUA, está a decrescer consideravelmente. Nasce uma nova era.

Mohammad Javad Zarif esteve em Riade no passado sábado: o principal inimigo da Arábia Saudita esteve presente para apresentar as suas condolências. Pode-se partir do princípio de que o Irão estivesse ali também para sentir o ar e estudar o seu novo rival, o Rei Salman.
Pelo que se diz, a maneira saudita de seleccionar os sucessores reais é baseada não na estratégia mas sim na tradição, senão porque – numa conjuntura política crucial como aquela em que vivem - haveriam de anunciar um rei que sofre de Alzheimer's e de demência? Tal selecção é estrategicamente perigosa e pode representar várias oportunidades interessantes para adversários. O Irão está a contar com isso e a sua presença deverá ser interpretada como um aviso: a Revolução Islâmica está pronta para tomar as rédeas da região (e se tomarmos em consideração o pré-Golpe de Estado feito pelos Houthis no Iémen...)..
Realmente, a posição da Arábia Saudita está a decrescer quando os lobos aparecem para jantar.

O Rei Salman pediu ao Conselho de Fidelidade para reconhecer o Príncipe Muqrin como seu herdeiro – diz-se que Muqrin (que recebeu treino como piloto militar, é o ex-governador de Medina e ex-chefe dos serviços de informação) será o rei de facto devido à doença do Rei Salman, mas como o príncipe não é amado por todos os seus familiares – por causa da sua linhagem materna – os oponentes da Arábia Saudita farão de tudo para o sabotar por dentro.

A intriga palaciana vai começar. Esperam-nos tempos interessantes... 


(Fonte da Imagem: BBC)

Comentários

  1. Oi, Max!
    A morte do rei Abdullah não poderia ser descrita como surpresa, mas isso não deve diminuir o significado de sua morte, que chegou em um momento de distúrbios e incertezas no Oriente Médio.
    Acho que o povo está aliviado de terem um novo rei e sabendo conhecedores dos cidadãos que têm, foi imediata a veiculação do nome do sucessor.
    Agora é esperar para ver o que acontece!

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    1. Olá Luma :D!

      Há muito que o monarca andava doente, é verdade. O Médio Oriente sempre foi assim, a única diferença é que agora nós (por causa da media) estamos a prestar "mais atenção". Contudo, ainda não estamos a abordar o problema a fundo...e a Arábia Saudita faz parte desse problema,
      Não sei se o povo estará aliviado por terem um novo rei que promete manter o status quo; particularmente, quando esse povo está a dar mostras de querer mudanças (ainda que muito timidamente) - mas estou curiosa quanto ao herdeiro, o Príncipe Muqrin...

      Disseste bem, querida: agora é esperar para ver.
      Luma obrigada pelo teu super comentário :D.

      Beijocas

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  2. O mundo é hipócrita! A arábia saudita tem o recorde de ser o país que mais viola os direitos humanos e trata as mulheres como se fossem nada senão uma máquina de reprodução, e o que fazem os nosso líderes? Vão lá e beijam a mão do novo rei!
    Já não precisamos do petróleo deles logo dispensamos este tipo de vassalagem.

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    1. Olá Carla :D!

      Bem, os nosso líderes ainda têm de interagir com o país e por isso devem apresentar as suas condolências (aí estiveram bem). O que nos deve fazer suspeitar é a vassalagem excessiva a esses países que patrocinam ataques terroristas contra alvos ocidentais...
      É verdade, já não precisamos tanto do petróleo deles...

      Carla, muito obrigada pelo teu comentário :D.

      Um grande abraço

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