UNGA 2015: Análise do Discurso do PM Netanyahu


O PM Netanyahu falou diante a UNGA para expressar a sua oposição ao Acordo com o Irão; para explicar a reaproximação com os Estados Árabes; para criticar a parcialidade da ONU; para acabar com a ilusão de que as Relações Israel-EUA precisam de terapia de casal; e para inspirar o seu Povo, que o elegeu em desafio de todas as previsões.

A Ameaça Iraniana
“E para aqueles entre vós que acreditam que o acordo de Viena vai gerar mudanças nas políticas do Irão, oiçam o que o Supremo Líder do Irão, Ayatollah Khamenei, disse cinco dias depois de se ter chegado a acordo: 'As nossas políticas no que toca ao governo arrogante dos Estados Unidos não mudarão.' Os Estados Unidos, jurou ele, continuarão a ser o inimigo do Irão.” 

O PM israelita relembrou à América que ela precisava de se colocar ao lado de Israel porque o regime revolucionário iraniano é o mesmo que raptou 52 americanos e os manteve captivos durante 444 dias. A mensagem parece ter sido eficaz porque diz-se que os militares americanos já estarão a trabalhar para que Israel receba bombas bunker-buster (e não só), como expressão de apoio.

“Na semana passada, o Major General Salehi, o comandante do exército iraniano, proclamou o seguinte: 'Iremos com toda a certeza aniquilar Israel.' (..) 'Estamos satisfeitos por termos recebido o mandato do Supremo Líder para destruir Israel'.”

O PM Israelita está basicamente a informar o mundo de que Israel não irá ficar parado enquanto o Irão ameaça a existência do Povo Judeu – e como vimos ontem, a Causa Palestiniana está relacionada com estas ameaças visto que '[o porta-voz das] Brigadas do Mártir Abdul-Qader al Husseini (facção da Fatah), (..) revelou recentemente, a um jornal libanês, que o seu financiamento, treino e armas vieram directamente do Irão “Há sempre contacto entre a resistência palestiniana e o Hezbollah e o Irão (..) Isto já não é um segredo”.'
Ao mesmo tempo, Bibi Netanyahu insinua que o presente regime iraniano precisa de ajustes.

Ajustes ao Regime
“Mas este acordo, este acordo tratará o Irão como um país normal mesmo se continuar sendo uma teocracia negra que conquista os seus vizinhos, patrocina terrorismo à volta do mundo e canta 'Morte a Israel', 'Morte à América'. Será que alguém acredita mesmo que enchendo uma teocracia radical com armas e dinheiro irá contornar o seu apetite pela agressão?”

Esta passagem contém uma mensagem oculta: Israel está disposto a aceitar a oferta do Presidente Obama se o objectivo fôr dar à Teocracia Iraniana suficiente corda para se enforcar.

A Força do Povo Judeu
“Di-lo-ei de novo: Os dias em que o Povo Judeu ficava passivo diante de inimigos genocidas – esses dias acabaram.”

Esta passagem é um copy-paste do discurso do ano passado. (NB: interessante como tanto o Presidente Obama como o PM Netanyahu utilizaram o mesmo método no seus discursos [ainda que o PM israelita tenha sido mais subtil] – o que é que isto nos diz? Diz-nos que este blog tem razão quando diz que as tensões EUA-Israel são pão e circo para as massas).

“Não ser passivo também significa que nos defenderemos contra esses perigos. Fizemo-lo. Fá-lo-emos.”

De novo, Israel promete defender-se, por si e para si, se levado a esse extremo – recordemos as Operações Ópera e Pomar.

“Na antiguidade, deparámo-nos com a destruição (do povo Judeu) por parte dos impérios antigos da Babilónia e de Roma. (..) No entanto, os impérios da Babilónia e de Roma não estão representados nesta assembleia das nações. Nem sequer o Milenar Reich.”  

Uma mensagem directa para os Ayatollahs: se o imperialista Irão insistir na sua senda de destruir Israel, directa ou indirectamente (através dos seus proxies), terá o mesmo fim que a Babilónia, Roma e o Reich.

“mas a nação-estado de um povo com quase 4,000 anos de existência (..) vive. O Povo de Israel vive.
עם ישראל חי"

Amén. O Irão, e outros no Médio Oriente, deveriam ler o seu al-Corão mas atentamente: Am Yisrael não pode ser destruído pela mão do homem. O mundo teve 2.000 anos de perseguição, exílio forçado, escravidão, expulsão, pogroms, a Shoah, e 67 anos de Terrorismo árabe para se aperceber desse facto. É melhor associar-se aos Judeus do que tentar aniquilar-nos. O jogo mudou.

A Questão de Jerusalém
“O povo Judeu, durante centenas de gerações, sonhou em regressar à Terra de Israel. Mesmo nas nossas horas mais tenebrosas, e nós tivemos muitas, mesmo nas nossas horas mais tenebrosas jamais desistimos da esperança de reconstruir a nossa eterna capital, Jerusalém.”

Jerusalém jamais será dividida. Jerusalém é a Capital do Estado Judaico, agora e sempre. O Povo Judeu jamais aceitará separar-se da Cidade Santa. Para além disso, Israel é a única entidade que garantirá acesso livre à capital (NB: até 1967, o ano em que Israel reconquistou Jerusalém, Judeus e Cristãos não tinham acesso à cidade Santa).

“Mil anos antes do nascimento do Cristianismo, mais de 1.500 anos antes do nascimento do Islão, o Rei David fez de Jerusalém a nossa capital, e o Rei Salomão construiu um Templo naquele monte.”

Então chegou a hora de Israel dar início aos devidos procedimentos legais.

A Ameaça do ISIS
“Muitos na nossa região sabem que tanto o Irão como o ISIS são o nosso inimigo comum. E quando os inimigos lutam entre si, não fortaleçam um deles – enfraqueçam ambos.”

Uma mensagem para o Ocidente. Mas pergunto: Israel terá uma melhor ideia de como enfraquecer os dois ao mesmo tempo? É porque o ISIS é fortalecido pelos mesmo países árabes que Israel tanto se esforça para se reaproximar. O que fazer então?

Mensagem ao Movimento BDS e afiliados
“Israel é a nação da inovação. O know-how israelita está por todo o lado. Está nos micro-processadores e flash drives dos vossos computadores. Está nos vossos smartphones, quando vocês enviam mensagens e quando navegam os vossos carros. Está nas vossas quintas, quando utilizam os sistemas de irrigação por gota e mantêm as vossas sementes e produtos frescos.”

Se o movimento BDS e as empresas europeias (que gostam de sucumbir à pressão daquele) querem boicotar Israel, como farão para disseminar a sua mensagem política se cada computador, smartphone, empresas das redes sociais etc contêm tecnologia israelita (contribuindo assim para a força económica de Israel)? É para vermos o quão deficiente, em termos de conhecimento, entendimento e sabedoria, essa gente é.

“Até está no vosso prato, quando comem o delicioso tomate bébé. Pois, até isso foi aperfeiçoado em Israel, para o caso de não saberem.”

Eu por acaso não sabia. E pensar que os Europeus adoram o seu tomate bébé...

Mensagem Especial
“No entanto, os sonhos do nosso povo, selados para toda a eternidade pelos grande profetas da Bíblia, esses sonhos serão completamente realizados só quando houver paz.”

“Eu acredito (..) e ainda que ele demore, esperarei por ele a qualquer dia que possa vir.”

A Falta de Vontade Política dos Palestinianos
“(..) apesar dos melhores esforços de seis primeiros-ministros israelitas – Rabin, Peres, Barak, Sharon, Olmert e eu – os Palestinianos têm consistentemente recusado terminar o conflito e fazer a paz final com Israel.”

Como Abba Eban disse “os palestinianos nunca perdem uma oportunidade de perder uma oportunidade.” e porquê? Porque o seu objectivo é um só: a Solução de Um Estado Árabe Sem Judeus.
(Se quiserem poderão ler este artigo [em Inglês], de David Harris, que vos dá a sequência cronológica da rejeição crónica palestiniana).

Parcialidade da ONU
“E a ONU, caros delegados, deveria fazer mais uma coisa. A ONU deveria finalmente deixar de obsessivamente falar mal de Israel. (..) Quando é que a ONU irá finalmente parar de difamar Israel, quando diz que ela é uma ameaça à paz, e começar a ajudar Israel a fazer paz?”

ONU não tem sido útil na geração de paz entre os árabes e Israel; não quando critica Israel a toda a hora, não quando não exige que o campo árabe assuma a responsabilidade pelos seus crimes (e todos nós vemos que o fazem todos os dias enquanto se vitimizam), e não certamente quando encoraja Mahmoud Abbas, e a sua equipa, a seguirem medidas unilaterais que violam acordos passados e Resoluções do Conselho de Segurança. A ONU, a continuar assim, só diminui a sua credibilidade.

“(..) no ano passado, esta assembleia adoptou 20 resoluções contra Israel e só uma acerca da matança selvática na Síria. Isto é que injustiça. Isto é que desproporcionalidade. Vinte. Contem-nas. Uma contra a Síria.”

De facto, neste caso a palavra “desproporcionalidade” está bem aplicada (ao contrário de quando o mundo emprega a mesma palavra para deslegitimar o Estado Judaico).

Conclusão: um discurso brilhante, eficaz (gabo a eficácia dos 45 segundos de silêncio). Contudo, houve algo que o PM Netanyahu disse que captou a minha atenção: se os Palestinianos estão mesmo a esconder armas na Mesquita Al-Aqsa, a Jordânia poderá estar a violar o Acordo de Paz com Israel. Para além do mais, é ilegal esconder armas em locais de culto (objectos civis) porque fazê-lo torna-os um alvo militar legítimo; logo, a Jordânia e a Waqf – ao apoiar o esforço de guerra dos Palestinianos – estão a violar a lei internacional e talvez a fazer uma declaração de guerra. Não é um bom sinal para a Jordânia...


(Imagem Dowloaded da gadebate.un.org)

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