A Crise Norte-Coreana: A Guerra Proxy Renovada


Os relatórios oriundos da Ásia não soam a nada de bom: Kim Jong Un ameaça atacar o mundo livre – de novo – porque não gosta do exercício militar anual que os EUA e a Coreia do Sul levaram a cabo recentemente na Península coreana. A Coreia do Norte (DPRK) parece estar a ir de mal a pior. Os EUA estão a fazer demonstrações de força, de acordo com a premissa da Política de Poder expressa pelo Presidente Trump aquando da sua tomada de posse, e o mundo parece abalado já que se está a mexer, mais uma vez, na velha ordem mundial.

A Génese do Problema

A Coreia foi anexada pelo Japão, em 1910. Mas depois do Japão ter perdido a Segunda Grande Guerra, os Aliados decidiram que a Coreia tinha de ser dividida no paralelo 38: o Norte foi ocupado pela União Soviética e o Sul foi ocupado pelos Estados Unidos. No dia 25 de Junho de 1950, a Coreia do Norte (i.e. os Soviéticos) invadiu o Sul (i.e. os EUA) e assim começou a Guerra Proxy sangrenta de 3 anos, com consequências duradoiras conforme se vê nos presentes eventos.

O conflito hodierno: é uma guerra proxy entre a Rússia e os EUA ou entre a China e os EUA (tendo Moscovo sido substituído por Beijing)?

Tensões Proxy

Ainda que a Coreia do Norte tenha desenvolvido armas nucleares, ainda há dois dias falhou mais uma vez o lançamento de um míssil; apoiando assim a teoria de que a Coreia do Norte estará mesmo a trabalhar para os seus clientes (e.g. Irão e Paquistão) e não somente para si.

O relacionamento próximo entre a DPRK e a China é um problema. Já desde a era Kissinger, os EUA têm vindo a apaziguar os chineses – permitindo que prossigam com as constantes violações dos Direitos Humanos do seu próprio povo, com a subtil perturbação dos estados africanos, e com o apoio às ambições nucleares iranianas – ao desviar as atenções do Dragão Vermelho; contudo, é chegado o tempo para redireccionar o holofote para Beijing.

Uma criança de quatro anos poderia facilmente olhar para a crise da Coreia do Norte e aperceber-se que Beijing está profundamente envolvida nela, porque o infante iria colocar uma questão bastante simples: porque iria um vizinho poderoso ver passivamente o seu vizinho pequenote a desenvolver, testar e se gabar-se de possuir armas nucleares (um claro sinal de agressão) a não ser que tivesse um interesse directo no assunto?

Para além de fazer comércio com e vender “componentes de alta-tecnologia crítica” a Pyongyang (para o seu programa de mísseis), já para não falar do apoio diplomático que confere à Dinastia Kim; Beijing pode ter vindo a usar a Coreia do Norte como um instrumento de negócios externos para indirectamente demonstrar um comportamento agressivo para com a América, e aliados, sem que se intensifique as tensões. Mas agora, dada a impaciência americana para com a crise no Mar do Sul da China, o Dragão Vermelho considera expediente ameaçar indirectamente os Estados Unidos. Será que o Dragão Vermelho pretende mesmo entrar numa guerra tradicional contra a Águia?
Iremos responder a uma guerra aberta com uma guerra aberta e uma guerra nuclear com o nosso estilo de ataque nuclear - Choe Ryong Hae

“Nosso estilo de ataque nuclear”...estará a Coreia do Norte a ameaçar-nos com envenenamento nuclear, ou de radiação, a civis? A imagem de Alexander Litvinenko vem-me à memória. Se a Coreia do Norte/China usasse uns quantos operacionais no ocidente para levar a cabo tais ataques contra a população civil, então teríamos a pior versão dos chamados ataques de Lobo Solitário (Lone Wolf).

Não, os testes de mísseis falhados e a pseudo-demonstração de poder militar são uma distracção. Se eu fosse o establishment militar eu focar-me-ia nas palavras do Sr Choe – ela dizem-nos muito mais que mil imagens.


(Imagem: DPRK Demonstra Protótipo de Novo Míssel [ed.] - NBC News)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

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