Irão Posto de Lado Pela Rússia: Interpretando os Sinais de Fumo


Foi reportado que o Irão está a ser posto de lado pela Rússia, e que o regime iraniano já se apercebeu disso. Diz-se que os EUA, Israel e a Rússia estão a coordenar as suas políticas para a Síria e que os Ayatollahs não fazem parte do plano. Poderá isto ser uma indicação de que a América está finalmente pronta, sob a alçada da administração Trump, para fazer aquilo que deveria ter sido feito logo após a assinatura do JCPOA?

Esta discussão será feita com base no princípio de que o Irão e a Rússia não estão a jogar o Jogo da Desinformação.

O Ponto de Vista Iraniano

Os iranianos dizem que “o Papel que o Irão desempenha na Arena dos Desenvolvimentos Sírios está a ser Eliminado” para que a Turquia desempenhe um papel mais relevante.

Estará o Irão a ser posto de lado por causa dos testes de mísseis que foram feitos, em violação do JCPOA? Ou será que Rússia e os EUA decidiram que a Turquia, apesar dos erros e crimes do Erdogan, é um activo muito mais valioso que os iranianos (i.e. a Rússia precisa da Turquia para passar a sua frota pelo Bósforo e a América precisa de manter este membro da NATO sob controle)? Ou será que se trata de algo mais?

Apesar do Irão estar a acusar a Rússia de largar a bola revolucionária, ele não sabe bem o que a Rússia anda a tramar: terão os iranianos sido, mais uma vez, usados pelos russos como instrumento para atingir os seus fins (e.g. pressionar os EUA para levantar as sanções impostas ao governo de Putin; mostrar à América que a Terra dos Czares está numa posição mais vantajosa para operar no Médio Oriente e que poderão ajudar os americanos a combater o terrorismo islâmico não só na região mas também no mundo) ou será que os iranianos foram usados para obter informação valiosa que possa ser facilmente empregada como moeda de troca nas negociações com os americanos e israelitas (os principais inimigos do Irão), para atingir os objectivos russos?

Segundo a media, o Irão não tem a certeza de nada senão de uma coisa: os iranianos não foram convidados para se sentarem à mesa; e como os russos dizem e bem “se não estás sentado à mesa, estás a ser comido à mesa”. 

O Ponto de Vista Russo

A Rússia tem um claro interesse em se reaproximar dos Estados Unidos, e para esse fim os proxies do Kremlin escreveram que as relações Rússia-Irão não podem ser rotuladas como uma associação estratégica, mas sim como uma associação cautelosa (fonte, em inglês). Do ponto de vista de Moscovo, parece que a associação Russo-Iraniana falhou no cumprimento de alguns critérios e que ter um inimigo comum não é garantia de uma associação estratégica porque “o inimigo de outrora pode muito facilmente tornar-se um aliado no futuro” - não admira que os iranianos apresentem sinais de nervosismo.

Os mesmos proxies indicaram que Moscovo não considera que partilhe os mesmos princípios religiosos, culturais, sociais e outros “fundamentais valores” com o Irão, de modo a se poder estabelecer uma relação estratégica com ele. Ao mencionar estes valores, a Rússia está basicamente a sugerir que os partilha com a América e que está agora pronta a trabalhar com a Administração Trump de perto – coisa que a Administração Obama só poderia antever em sonhos.

Nota Bene: é preocupante ver os serviços de informação americanos dar a impressão de que a Rússia tem mais poder que eles e que tudo pode ao penetrar no seu sistema informático e, inclusive, interferir com os resultados eleitorais. Mesmo que fosse verdade, não deveria a Comunidade de Intel americana calar-se? Porquê enviar sinais de fraqueza: estão a tentar sabotar a administração Trump ou a atrair alguém? Estarão a tentar manter a separação entre os dois países para benefício próprio? 

Reitero que o mundo deveria dar as boas-vindas a uma relação saudável entre a Rússia e a América, se de facto queremos reboot a política mundial. Ideólogos dos dois lado estão a colocar o mundo em perigo e precisam de ser abordados. Agora é tempo para pragmatismo para o bem comum, não para ideologia para o bem de um grupo restrito.

O Ponto de Vista Americano e Israelita 

A América conduziu o acordou com o Irão em 2015, contudo continua a suspeitar de Teerão – não sem razão, contudo. Logo, Washington tem estado presente em conversas com a Rússia e Israel para arranjarem uma maneira de ostracizar o Irão do teatro de guerra civil sírio:

  • A Rússia quer tirar proveito das possíveis boas relações que possa vir a ter com o Presidente Trump, de modo a ver retiradas as medidas punitivas diplomáticas que lhe foram impostas; e logo ajuda os EUA a combater o ISIS e a exercer pressão às forças pró-iranianas, no Norte e no centro da Síria.
  • A Rússia quer que Israel dê uma palavrinha a seu favor junto do Presidente Donald Trump para o mesmo fim, e por isso criou um protocolo militar com o Estado Judaico para evitar fricções quando Israel atacar as forças pró-irão no Sul da Síria. 
  • A América e a Rússia reconheceram que o Hezbollah é uma “ameaça existencial a Israel” e logo concordam que Jerusalém tem de impedir que o proxy iraniano, no Líbano, receba qualquer remessa de armas. 
  • Os três concordaram que as forças iranianas precisam de ser expulsas do teatro sírio – terão a América e a Rússia também concordado em soltar o Dragão Azul? Os relatórios de que o sistema de defesa anti-míssil David's Sling está operacional, apontam nesse sentido.
  • Mas então, e o Bashar al-Assad? A Rússia chegou a um compromisso com a dupla EUA-Israel mas também se deve partir do princípio de que a Águia e o Leão de Sião tenham concordado também que o homem da Rússia deva permanecer no poder até que condições mais expedientes para a sua substituição se reúnam. 

Conclusão

Mas o que poderá significar tudo isto exactamente? Poderá significar que o regime revolucionário, em Teerão, deveria preocupar-se com os sinais de fumos enviados: m-u-d-a-n-ç-a-d-e-r-e-g-i-m-e. Da Rússia com amor – não é nada pessoal, it's strictly business. 


(Este artigo foi elaborado em colaboração com Jonathan W. Penn)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

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